Codorniz
A abundância de
codorniz é monitorizada pelos Serviços Florestais nas ilhas dos grupos Central
e Oriental, durante o período reprodutor através da contagem de machos a
vocalizar ao longo de percursos pré-estabelecidos em habitat típico da espécie. Estas contagens permitem estimar abundâncias
relativas, com as quais é possível avaliar a tendência das populações. Este método, proposto em França (Guyomarc’h et al.
1998), tem sido adaptado para monitorizar outras populações de codorniz,
em Portugal continental, Espanha ou Marrocos (Rodríguez-Teijeiro
et al. 2010, Puigcerver et al. 2012).
Nos Açores, a
contagem de machos a vocalizar começou por ser experimentada em São Miguel, em
2007, onde se realizaram censos semanais, entre abril e agosto, que mostraram
que o número de machos a vocalizar era mais elevado em junho (Rodrigues et al. 2009), sendo este o período de
referência durante o qual a espécie tem vindo a ser monitorizada no
arquipélago. Ao longo dos anos a
monitorização foi-se alargando às restantes ilhas.
Desde 2014 é monitorizada
em todas as ilhas dos grupos Central e Oriental. Desde 2007 29 colaboradores da
DRRF percorreram cerca de 1500 km, a pé, exclusivamente dedicados à
monitorização da codorniz. A rede de
percursos estabelecidos nos Açores tem variado ao longo dos anos. Em 2019 foram efetuados 29 percursos num
total de 56,1 km, e registados 899 machos diferentes. Como os percursos não abrangem a totalidade
do habitat disponível para a codorniz em cada ilha (nem todas as ilhas), e esta
metodologia apenas contabiliza a fração masculina da população, as aves
registadas corresponderão apenas a uma parte da população total desta espécie
na Região.

(Clique em cada ilha para mais informação)
Na ilha de Santa Maria, a abundância de codorniz
permaneceu estável, enquanto que nas restantes ilhas se observaram variações
significativas na abundância ao longo dos anos em que as respetivas populações
foram monitorizadas. Nas ilhas do Faial,
Graciosa e São Jorge observou-se um aumento na abundância de codorniz desde
que a espécie aí é monitorizada. Para as
ilhas do Pico e Terceira, apesar da variação inter-anual na abundância, os valores
estimados para 2019 são ligeiramente superiores aos de 2013, sugerindo um
aumento moderado na abundância de codorniz ao longo dos últimos sete anos. Em São
Miguel, a abundância diminuiu entre 2007 e 2011, tendo permanecido estável
a partir desse ano. É necessário não
esquecer que nesta ilha, ao contrário das outras, a população de codorniz é anualmente
reforçada com um efetivo importante de aves criadas em cativeiro.
A distribuição e
abundância de codorniz no grupo Ocidental não é bem conhecida. Apesar de a sua caça estar proibida há várias
décadas nas Flores, e de na ilha do Corvo não existir atividade venatória a
qualquer espécie, no futuro, será importante alargar a monitorização da
codorniz a estas ilhas, de forma a perceber a situação global deste endemismo
açoriano.
Do
ponto de vista global, ao longo dos últimos cinco anos, registou-se um aumento
na abundância de codorniz nos Açores.
Variação
anual da abundância relativa de codorniz nos Açores

O gráfico apresentado ilustra a evolução da abundância
relativa estimada através de modelação estatística do número de machos
diferentes escutados ao longo de cada percurso, através de um modelo misto
aditivo generalizado (GAMM), com uma distribuição do erro do tipo negativo
binomial. As ilhas e os percursos
foram incluídos no modelo como variáveis aleatórias. O esforço
de amostragem foi parametrizado incluindo nos modelos os logaritmos das
distâncias percorridas em cada contagem.
Os modelos tiveram em conta a dispersão estatística dos dados. A curva sólida, e a área sombreada a verde,
correspondem à abundância estimada e respetivos intervalos de confiança a 95%.
O efeito aleatório de cada ano e respetivos intervalos de confiança a 95% são
indicados pelos pontos e linhas verticais.
Referências:
Guyomarc’h JC, Mur P
& Boutin JM. 1998. Méthode de
recensement des cailles des blés au chant. Bull.
Mens. Off. Natl. Chasse
231: 4-11.
Puigcerver M, Sardà-Palomera F &
Rodríguez-Teijeiro JD. 2012. Determining
population trends and conservation status of the common quail (Coturnix coturnix) in Western Europe. Animal Biodiversity and Conservation 35: 343-352. [http://abc.museucienciesjournals.cat/files/ABC_35-2_pp_343-352.pdf]
Rodrigues T, Gonçalves
D, Ferreira C, Paupério J & Alves PC. 2009.
Gestão de espécies cinegéticas no Arquipélago dos Açores. Relatório Final. CIBIO-UP.
Porto.
Rodríguez-Teijero JD,
Sardà-Palomera F, Alves I, Bay Y, Beça A, Blanchy B, Borgogne B, Bourgeon B,
Colaço P, Gleize J, Guerreiro A, Maghnouj M, Rieutort C, Roux D &
Puigcerver M. 2010. Monitoring and management of common quail Coturnix coturnix populations in their
Atlantic distribution area. Ardeola
57:
135-144. [https://www.ardeola.org/uploads/articles/docs/1497.pdf]
Última atualização: 03 de março de 2020