Bem-vindos à Direção Regional dos Recursos Florestais e Ordenamento Territorial
(+351) 296 204 600
[email protected]
^

Regime de Desbaste

O regime de desbaste é definido por cinco critérios, que conjugados com a classificação das árvores em termos de posição relativa no povoamento determinam o modo de procedimento do desbaste (Alves, 1988).

Tipo ou método de desbaste – define uma alteração na estrutura horizontal e vertical do povoamento. Determina pois um novo arranjo da espacial do povoamento, consoante os critérios definidos, que podem ser: classe de diâmetro; posição relativa no coberto; distribuição espacial (proximidade); conformação; qualidade e estado do fuste ou da copa.

  • Desbaste pelo baixo – neste a ordem de prioridade de intervenção é das dominadas para as dominantes (de baixo para cima, do pior para o melhor), inicia-se nas árvores dominadas, copas mal conformadas, mortas ou doentes, nunca se retira árvores de posição superior no estrato enquanto houver árvores no estrato inferior (figura 1, 2 e 3).
    Aplicabilidade – Indicado para espécies intolerantes ao ensombramento, cujos indivíduos dos andares inferiores perderam capacidade competitiva e de resposta a desafogo que pudesse existir nos andares superiores.

 

Figura 1 – Esquema de um exemplo de um desbaste pelo baixo – situação antes e depois do desbaste e antes do desbaste seguinte, respetivamente (Alves, Pereira e Correia, 2012)

Figura 2 – Desbaste pelo baixo com grau elevado (adaptado de Daniel, Helms e Baker, 1979)

 

  • Desbaste pelo alto – contrariamente ao desbaste pelo baixo, neste as intervenções incidem nos andares superiores, essencialmente nas árvores codominantes e dominantes (figura 3), poupando-se as dos andares subdominado e dominado, tendo por objetivo preservar para o corte final as melhores árvores dominantes, concedendo-lhes desafogo ao retirar as árvores em competição com elas, por estarem no mesmo andar ou no codominante. Podendo-se escolher para permanecerem árvores codominantes se forem mais prometedoras. A permanência das árvores dos andares inferiores, serve como árvores de acompanhamento que promovem diretamente a desramação natural das árvores dos andares superiores e assim um bom coeficiente de adelgaçamento. Segundo Alves (1988), este tipo de desbaste apresenta duas caraterísticas principais: 1) obtenção de melhore árvores no termo da explorabilidade, de maiores dimensões médias, com fustes mais qualificados, sem prejuízo para o volume total; 2) obtenção de material lenhoso em cortes intermédios mais valorizado (maior volume) conferindo rentabilidade à operação. Contudo exige maior especialização no marcador de desbastes (conhecimentos de silvicultura).

    Aplicabilidade
    – Indicado para espécies tolerantes, ou pouco intolerantes, em povoamentos puros, com presença de boas árvores nos andares inferiores (bem conformadas, bom coeficiente de adelgaçamento). Igualmente indicado para povoamento mistos com espécies de mais rápido crescimento nos andares superiores e de mais lento crescimento nos andares inferiores (p. ex. pinheiro bravo e carvalhos ou castanheiros). É contraindicado para as intolerantes, principalmente nas fases mais avançadas de desenvolvimento dos povoamentos (pois dificilmente se manteriam árvores em bom estado vegetativo nos andares inferiores).

Figura 3 – Proposta de dois cenários. Um marcado com um “-“ se o desbaste pelo baixo for para continuar, e um marcado com um “X” se for apenas para fazer um desbaste pelo alto
(adaptado de Daniel, Helms e Baker, 1979)
 
  • Desbaste seletivo – De acordo com o seu conceito poderia ser designado por salteado ou jardinatório, devido às características de corte salteado que possui (embora não sendo um corte final), e no sentido em que o desbaste pelo alto e pelo baixo na sua essência também são seletivos (com caraterísticas próprias). Como no desbaste pelo alto, é direcionado para os andares superiores, com a grande diferença de terem um objetivo diverso: favorecer os andares médio e inferior, removendo inclusivamente as melhores dominantes, aquelas que são sempre preservadas no desbaste pelo alto. É um tipo de intervenção que vai ao contrário da evolução natural, elimina os indivíduos que se destacaram na competição natural.

    Aplicabilidade – Verifica-se apenas em dois casos particulares. No primeiro caso, num desbaste com carácter temporário, quando as dominantes têm fustes mal conformados, com copas excessivamente desenvolvidas (elevado coeficiente de adelgaçamento), enquanto nos andares inferiores (subdominantes, codominantes e dominadas) encontram-se as chamadas árvores de futuro, aquelas que dão garantias de lenho de maior qualidade a corte final. Em espécies tolerantes ou moderadamente intolerantes, em fases iniciais, enquanto a capacidade de resposta ao desafogo do coberto se mantém. No segundo caso, quando um desbaste seletivo tem carácter permanente ao longo das revoluções, em casos de povoamentos destinados à obtenção de produções de pequena ou média dimensão, começando então o corte a perder as características de um desbaste para passar a ter também as características de um corte final (do tipo salteado). Neste tipo de desbaste para que se obtenham no fim das revoluções produtos de dimensão equivalente, as revoluções terão de aumentar de 40 a 60 %. Contudo a remoção das árvores dos andares superiores, parece traduzir-se me mais elevados ou pelo menos iguais acréscimos médios em volume nas árvores dos andares inferiores (Alves, 1988).
  • Desbaste mecânico – Este tipo de desbaste é utilizado em silvicultura intensiva, com compassos fixos, com elevada mecanização nas operações de desbaste. Por exemplo na cultura intensiva de eucalipto para produção de celulose (figuras 4 e 5). Contudo este tipo de desbaste não tem a caraterística dos anteriores de seleção dos indivíduos a sair em desbaste. Consiste em remover todas árvores numa determinada linha ou faixa à volta das árvores escolhidas para corte final.

    Aplicabilidade – Poderá ter alguma aplicação nas fases iniciais de desenvolvimento dos povoamentos, principalmente com plantas selecionadas (p. ex. clones), ou então em silvicultura intensiva. A operação de limpeza de povoamento nos casos de regeneração natural intenso pode ser entendida como um desbaste.

Figura 4 – Povoamento de Eucalyptus sp. após desbaste mecânico

Fig. 5 – Povoamento de Pinus sp. após desbaste mecânico

Na figura 6 apresenta-se a curva de distribuição normal do número de árvores (N) por unidade de área por classes de DAP, na qual a zona a tracejado representa as árvores que serão retiradas em cada um dos tipos de desbaste.

Fig. 6 – Densidade de árvores por classes de DAP consoante o tipo de desbaste (Alves, Pereira e Correia, 2012)

Ciclo ou periodicidade: é o tempo em anos, que decorre entre desbastes sucessivos num mesmo povoamento. Quando se define o regime de desbaste deve-se mencionar a data da primeira intervenção e o número de intervenções previstas. Segundo Alves, Pereira e Correia (2012), considera-se um ciclo curto quando é à volta de 5 anos e longo quando é mais de 10 anos.

Peso do desbaste (di): indica o volume do material lenhoso a sair em desbaste na idade i. Mas normalmente utiliza-se outra variável dendrométrica, como por exemplo número de árvores a sair em desbaste.

Grau de desbaste (gi): é a relação entre o valor do volume (ou outra variável, como p. ex. número de árvores) de material lenhoso a retirar num desbaste di e o volume vi existente antes do desbaste (volume em pé), expresso em termos percentuais. Sendo assim, se v’i for o volume depois de desbaste, o grau de desbaste na idade i será expresso pela equação 1:

Um desbaste diz-se fraco quando o grau é cerca de 20 %, moderado à volta de 40 % e forte acima de 60 % (Alves, Pereira e Correia, 2012).

Segundo a Forestry Comission in Alves (1988), os graus de desbaste podem ser definidos de muito leves a muito fortes, pelas letras A a E, do seguinte modo:

  • A – muito leve
  • B – Leve
  • C – moderado
  • C/D – moderadamente forte a forte
  • D – forte
  • E – muito forte

Em termos práticos segundo Alves (1988), nos graus de desbaste mais fracos, A, B e C, a intervenção é essencialmente nos andares dominados e subdominados, enquanto nos mais fortes, graus D e E, se intervém intensamente nos andares codominantes e dominantes. O grau C/D é o caso intermédio e é recomendável na maioria das espécies resinosas, especialmente quando não se tem uma técnica cultural estabelecida para a espécie.

Uma regra geral é que nunca se deve desbastar com um grau, com o qual se preveja que no espaço de 5 a 10 anos a abertura no espaço das copas não possa ser ocupado por estas (Alves 1988).

Intensidade de desbaste: é uma medida da produção de saída, anualmente, em média, paralela à noção dos acréscimos anuais do volume principal. Sendo assim, a intensidade de desbaste anual Ii é o quociente do volume removido num desbaste pelo número de anos que decorre desde o momento da sua realização até à próxima intervenção. Poderemos agrupar da seguinte forma, será o volume de todos os desbastes (∑di) a dividir pelo número de anos que decorreu desde a primeira intervenção até à última. Se m for o número de desbastes e n o período ou ciclo de desbaste, a intensidade traduz-se na equação 2:

O regime de desbaste tem de ser planeado consoante os objetivos de produção lenhosa, pois causa impacto no tipo de lenho que se obtém no final da revolução. Por exemplo, em povoamentos de espécies folhosas, como faias, carvalhos ou castanheiros, se optarmos por compassos de plantação ou por desbastes muito fortes aumenta o tamanho das copas e diminui a altura das árvores.