Codorniz
A abundância de codorniz é monitorizada pelos Serviços Florestais nas ilhas dos grupos Central e Oriental, durante o período reprodutor através da contagem de machos a vocalizar ao longo de percursos pré-estabelecidos em habitat típico da espécie. Estas contagens permitem estimar abundâncias relativas, com as quais é possível avaliar a tendência das populações. Este método, proposto em França (Guyomarc’h et al. 1998), tem sido adaptado para monitorizar outras populações de codorniz, em Portugal continental, Espanha, ou Marrocos (Rodríguez-Teijeiro et al. 2010, Puigcerver et al. 2012).
Nos Açores, a contagem de machos a vocalizar começou por ser experimentada em 2002, na ilha do Pico (Serviço Florestal do Pico, 2002). Mais tarde, em 2007, em São Miguel, foram realizadas contagens semanais, entre abril e agosto, que mostraram que o número de machos a vocalizar era mais elevado em junho (Rodrigues et al. 2009), sendo este o período de referência durante o qual a espécie tem vindo a ser monitorizada no arquipélago. Ao longo dos anos a monitorização através desta metodologia foi-se alargando às restantes ilhas.
Desde 2014 é monitorizada em todas as ilhas dos grupos Central e Oriental. Desde 2007, 45 colaboradores da DRRFOT percorreram a pé, 2.480 km exclusivamente dedicados à monitorização da codorniz. A rede de percursos estabelecidos nos Açores tem variado ao longo dos anos. Em 2023 foram efetuados 23 percursos num total de 46,7 km, e registados 711 machos diferentes. Como os percursos não abrangem a totalidade do habitat disponível para a codorniz em cada ilha (nem todas as ilhas), e esta metodologia apenas contabiliza a fração masculina da população, as aves registadas corresponderão apenas a uma parte da população total desta espécie na Região.
Na ilha de Santa Maria a abundância de codorniz tem permanecido estável desde que a espécie é monitorizada, enquanto que nas restantes ilhas se registaram variações significativas na abundância.
Na ilha do Faial, após um período em que aumentou, entre 2014 e 2017, a abundância de codorniz permaneceu estável nos anos seguintes, seguindo-se uma diminuição significativa a partir de 2020. Atualmente apresenta níveis de abundância semelhantes aos de 2013 quando a espécie começou a ser monitorizada nesta ilha.
Na ilha Graciosa, observou-se um aumento significativo entre 2020 e 2022. Em 2023 a abundância de codorniz não terá variado em relação ao ano anterior.
Em São Jorge, após um período inicial de estabilidade, verificou-se um aumento na abundância, entre 2015 e 2019, tendo, daí em diante, permanecido estável, mas em nível superior ao dos primeiros anos.
Na ilha do Pico, a abundância, que aumentara entre 2013 e 2016, e diminuíra entre 2018 e 2020, permaneceu estável nos últimos anos, a nível superior ao registado em 2013.
Na ilha Terceira, embora a abundância observada em 2023 não seja diferente da registada em 2013, ela tem variado ao longo dos anos, sobretudo entre 2016 e 2020 quando se observou um aumento significativo.
Na ilha de São Miguel, a abundância diminuiu significativamente entre 2007 e 2011, seguindo-se um período de estabilidade. Entre 2015 e 2018 a abundância aumentou ligeiramente, tendo posteriormente permanecido estável até 2023. É necessário não esquecer que em São Miguel, ao contrário das outras ilhas, a população de codorniz é anualmente reforçada com um número importante de aves produzidas em cativeiro (a partir de aves capturadas na própria ilha).
A distribuição e abundância de codorniz no grupo Ocidental não é bem conhecida. Apesar de a sua caça estar proibida há várias décadas na ilha das Flores, e de na ilha do Corvo não existir atividade venatória a qualquer espécie, no futuro, será importante alargar a monitorização da codorniz a estas ilhas, de forma a perceber a situação global deste endemismo açoriano.
Do ponto de vista global, de acordo com a monitorização realizada pela DRRFOT ao longo da última década, a abundância de codorniz nos Açores sofreu um aumento (~34,2%).
Variação anual da abundância relativa de codorniz nos Açores
O gráfico apresentado ilustra a evolução da abundância relativa estimada através de modelação estatística do número de machos diferentes escutados ao longo de cada percurso, através de um modelo misto aditivo generalizado (GAMM), com uma distribuição do erro do tipo negativo binomial. Para acomodar as diferenças observadas na abundância entre percursos, incluiu-se o fator percurso no modelo. O logaritmo da distância percorrida foi incluído como offset. O modelo teve em conta a dispersão estatística dos dados e a auto-correlação temporal. A curva sólida verde, e as curvas tracejadas, correspondem à abundância estimada e respetivos intervalos de confiança a 95%.
Referências:
Guyomarc’h JC, Mur P & Boutin JM. 1998. Méthode de recensement des cailles des blés au chant. Bull. Mens. Off. Natl. Chasse 231: 4-11.
Puigcerver M, Sardà-Palomera F & Rodríguez-Teijeiro JD. 2012. Determining population trends and conservation status of the common quail (Coturnix coturnix) in Western Europe. Animal Biodiversity and Conservation 35: 343-352.
Rodrigues T, Gonçalves D, Ferreira C, Paupério J & Alves PC. 2009. Gestão de espécies cinegéticas no Arquipélago dos Açores. Relatório Final. CIBIO-UP. Porto.
Rodríguez-Teijero JD, Sardà-Palomera F, Alves I, Bay Y, Beça A, Blanchy B, Borgogne B, Bourgeon B, Colaço P, Gleize J, Guerreiro A, Maghnouj M, Rieutort C, Roux D & Puigcerver M. 2010. Monitoring and management of common quail Coturnix coturnix populations in their Atlantic distribution area. Ardeola 57: 135-144.
Serviço Florestal do Pico. 2002. Estudo da Codorniz (Coturnix coturnix) na Ilha do Pico. Direção Regional dos Recursos Florestais (relatório não publicado).
Última atualização: 02 de maio de 2024
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