Galinhola
A abundância de galinhola é monitorizada pelos Serviços Florestais em sete das nove ilhas Açorianas. A espécie só não é monitorizada na ilha do Corvo, onde não há atividade cinegética, e em Santa Maria, onde não há evidência de que a galinhola nidifique. A metodologia utilizada consiste na contagem de contactos com galinholas durante o período de exibição ao crepúsculo noturno, no período reprodutivo, em pontos de observação/escuta pré-estabelecidos. O número de contactos permite estimar uma abundância relativa. Este método desenvolvido em França (Ferrand 1993) tem vindo a ser adotado para a monitorização das populações reprodutoras de galinhola de outras regiões como o Reino Unido, a Suíça, ou algumas partes da Rússia, e é atualmente a principal forma de monitorizar a tendência das suas populações reprodutoras (Estoppey 2001, Fokin & Blokhin 2013, Heward et al. 2015).
Nos Açores, a monitorização é efetuada na ilha do Pico desde 2001 e em São Miguel desde 2003 (Gonçalves & Machado 2004, Machado et al. 2008). Nos primeiros anos, na ilha do Pico, foram realizados censos semanais, entre janeiro e julho, que permitiram perceber que o número de contactos com galinholas era mais elevado entre o início de março e meados de abril (Machado et al. 2008), sendo esta a janela temporal utilizada para a monitorização da galinhola no arquipélago. A partir de 2007, a população começou a ser monitorizada nas restantes ilhas.
Atualmente é monitorizada nas ilhas das Flores, Faial, Graciosa, São Jorge, Pico, Terceira e São Miguel. Desde 2001 mais de 80 colaboradores da DRRFOT despenderam mais de 1672 horas de observação exclusivamente dedicadas à contagem de galinholas. O número de pontos visitados em cada ilha tem variado ao longo do tempo. Nos últimos anos, a espécie tem sido monitorizada em 56 pontos. Em 2020, devido à situação pandémica causada pela SARS-coV-2, cuja chegada à Região Autónoma dos Açores coincidiu com o início do período de monitorização da galinhola, foi necessário interromper as contagens, que já se encontravam em curso, tendo apenas sido completadas na ilha do Faial, e parcialmente nas ilhas de São Jorge, Pico e Terceira, num total de 20 pontos.
Em 2025, a população foi monitorizada em quase todas as ilhas (exceto no Corvo e Santa Maria), num total de 60 pontos, tendo sido registados 788 contactos com galinholas, que corresponderão a cerca de 269 indivíduos diferentes (Hoodless et al. 2008). Como os pontos não abrangem a totalidade do habitat disponível para a galinhola em cada ilha (nem todas as ilhas), e esta metodologia apenas contabiliza a fração masculina da população, as aves registadas corresponderão apenas a uma parte da população total desta espécie na Região. Adicionalmente, na ilha de São Miguel, duas décadas depois da primeira avaliação, procedeu-se a uma reavaliação da distribuição e abundância da espécie, em mais de 70 pontos.
Na ilha das Flores, apesar da tendência decrescente observada a partir 2014, a abundância observada em 2025 não difere da registada em 2006.
Na ilha do Faial, após um aumento inicial na abundância, sobretudo entre 2014 e 2017, esta tem vindo a diminuir significativamente desde 2020. Contudo, o nível observado em 2025 é ainda superior ao observado em 2011.
Na ilha Graciosa, detetou-se a presença da espécie num segundo local que se passou a integrar a rede de monitorização da galinhola. A população tem permanecido estável, contudo a informação recolhida não é suficiente para modelar uma tendência.
Em São Jorge, após mais de uma década de estabilidade, observou-se uma diminuição em 2025.
Na ilha do Pico, observou-se uma importante redução na abundância de galinhola. A abundância observada em 2025 é inferior aos níveis que se registavam há duas décadas.
Na ilha Terceira, a abundância de galinhola diminuiu, sobretudo entre 2014 e 2017, e entre 2023 e 2025. O nível de abundância observado em 2025 é inferior ao registado em 2011.
Na ilha de São Miguel, onde a caça à galinhola está proibida há várias décadas, a abundância diminuiu durante os primeiros anos de monitorização, e tem permanecido estável durante s últimos dezoito anos, mas a um nível que não assegura a sua caça sustentável. Em 2025 procedeu-se a uma reavaliação da distribuição e abundância da espécie nesta ilha, que se encontra em fase de análise.
Na ilha de Santa Maria, apenas se conhecem os registos de galinhola nos invernos de 2017-2018 e 2022-2023.
Do ponto de vista global, a abundância de galinhola nos Açores manteve-se estável até 2023, tendo-se registado uma ligeira diminuição nos últimos dois anos.
Variação anual da abundância relativa de galinhola nos Açores
O gráfico apresentado ilustra a variação da abundância relativa estimada através de modelação estatística do número de contactos com galinholas em cada ponto de monitorização, através de um modelo misto aditivo generalizado (GAMM), com uma distribuição do erro do tipo negativo binomial. Os pontos foram incluídos no modelo como variável aleatória, as suas coordenadas geográficas foram incluídas de forma a controlar a auto-correlação espacial. Como o número de contactos varia ao longo do período de reprodução, incluiu-se ainda o dia do ano, em que cada contagem foi efetuada. O modelo teve em conta a dispersão estatística dos dados. A curva sólida, e a área sombreada a verde, correspondem à abundância estimada e respetivos intervalos de confiança a 95%. O efeito aleatório de cada ano e respetivos intervalos de confiança a 95% são indicados pelos pontos e linhas verticais.
Referências:
Estoppey F. 2001. Suivi démographique des populations nicheuse de Bécasse des bois Scolopax rusticola en Suisse occidentale de 1989 à 2000. Nos Oiseaux 48: 105-112.
Ferrand Y. 1993. A census method for roding Eurasian Woodcock in France. In Longcore JR & Sepik GF (eds) Proc. 8th Am. Woodcock Symp. US Fish & Wildlife Service Biol. Report 16. pp.19-25.
Fokin S & Blokhin Y. 2013. Monitoring of the Woodcock population in European Russia (1996-2010). In Ferrand Y (ed) Proc. Seventh European Woodcock and Snipe Workshop. Pp 29-35.
Gonçalves D & Machado AL. 2004. A Galinhola nos Açores – Ilhas do Pico e S. Miguel. Direção Regional dos Recursos Florestais.
Gonçalves D, Machado AL, Leitão M & Jesus A. 2008. Gestão de recursos cinegéticos no arquipélago dos Açores – A Galinhola. CIBIO-UP e Direção Regional dos Recursos Florestais. Porto.
Heward CJ, Hoodless AN, Conway GJ, Aebischer NJ, Gillings S & Fuller RJ. 2015. Current status and recent trend of the Eurasian Woodcock Scolopax rusticola as a breeding bird in Britain. Bird Study 62: 535-551.
Hoodless AN, Inglis JG, Doucet JP & Aebischer NJ. 2008. Vocal individuality in the roding calls of Woocock Scolopax rusticola and their use to validate a survey method. Ibis 150: 80-89.
Machado AL, Ferrand Y, Gossman F, Silveira AM & Gonçalves D. 2008. Application of a roding survey method to the sedentary Eurasian Woodcock Scolopax rusticola population in Pico Island, Azores. European Journal of Wildlife Research 54: 205-214.
Última atualização: 30 de maio de 2025
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