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Narceja-comum

A população nidificante de narceja-comum dos Açores é monitorizada pelos Serviços Florestais em várias ilhas, através da contagem de aves em exibição.  As contagens são efetuadas durante o início da manhã, em pontos pré-estabelecidos em locais onde a espécie nidifica.  As aves escutadas a vocalizar ou em voos de exibição são contabilizadas para o índice de abundância que permite acompanhar as variações no efetivo.  A contagem de aves em exibição é utilizada para monitorizar outras populações de narceja-comum, como por exemplo em Portugal continental, em França, no Reino Unido, ou até na Rússia (Smith et al. 1981, Green 1985, Hoodless et al. 2006, Rodrigues et al. 2013).

Nos Açores, a contagem de aves em exibição é utilizada desde 2007 para monitorizar a narceja-comum no Planalto dos Graminhais, na ilha de São Miguel (Rodrigues & Gonçalves 2009).  Em 2011 e 2014, foi também experimentada na ilha de São Jorge, onde se realizaram contagens quinzenais entre abril e agosto, e janeiro e agosto, respetivamente.  Nestas contagens foi registado um número mais elevado de aves em exibição durante o mês de abril, indicando que este será o melhor período para aferir a população (Rodrigues et al. 2012, Rodrigues et al. 2020).  Em 2014, a população começou a ser monitorizada noutras ilhas (Rodrigues et al. 2017).

Atualmente é monitorizada nas ilhas do Faial, Pico, São Jorge, Terceira e São Miguel, e pretende-se alargar essa monitorização à ilha das Flores.  Desde 2014, 28 colaboradores da DRRFOT despenderam mais de 190 horas, exclusivamente dedicadas à escuta/observação de narcejas.  O número de ilhas em que a espécie foi monitorizada e o número de pontos visitados tem variado ao longo dos anos.  Em 2020, devido à situação de emergência sanitária, gerada pela SARS-CoV-2, não se procedeu à monitorização da população de narceja-comum em qualquer ilha.  Isto veio a ser retomado em 2021.

Em 2025 foram realizadas contagens nas ilhas do Faial, Pico, São Jorge, Terceira e São Miguel, num total de 62 pontos, onde se registaram pelo menos 110 indivíduos diferentes.  Como os pontos não abrangem a totalidade do habitat disponível para a narceja em cada ilha (nem todas as ilhas), e esta metodologia contabiliza sobretudo a fração masculina da população, as aves registadas corresponderão apenas a uma parte da população total desta espécie na Região.

Na ilha do Faial, a abundância de narceja-comum tem vindo a diminuir desde que a população começou a ser monitorizada.

Na ilha de São Jorge, após uma recuperação em 2024, a abundância parece ter regressado aos níveis observados entre 2021 e 2023, ligeiramente inferiores aos observados em 2014 e 2019.

Na ilha de Pico, não obstante uma ligeira diminuição observada em 2024 e 2025, pode considerar-se que a abundância de narceja-comum se manteve estável ao longo da última década.

Na ilha Terceira, a abundância de narceja-comum tem vindo a diminuir desde 2014, quando se iniciou a monitorização da sua população.  Esta diminuição parece ter sido travada e, 2023 e 2024, após duas épocas venatórias em que a caça às narcejas esteve proibida.  Em 2025, após uma época venatória em que foi possível caçar narcejas, registou-se nova diminuição.

Em São Miguel, a abundância de narceja-comum diminuiu acentuadamente entre 2014 e 2021.  Nos últimos quatro anos, essa diminuição parece ter desacelerado, mas a tendência negativa mantem-se.   Desde a época venatória de 2019-2020, quando esteve proibida na ilha de São Miguel, a caça às narcejas foi sendo limitada a zonas que excluíram a região onde a espécie nidifica nesta ilha.  De época para época, estas zonas foram sendo cada vez mais restritas, até que, em 2024-2025 se retomou a proibição da caça às narcejas.

Do ponto de vista global, o resultado da monitorização nestas ilhas sugere que a abundância de narceja-comum nos Açores, tem vindo a diminuir ao longo da última década.

Variação anual da abundância relativa de narceja-comum nos Açores

O gráfico apresentado ilustra a variação da abundância relativa estimada através de modelação estatística do número de narcejas-comuns em exibição em cada ponto de monitorização, através de um modelo misto aditivo generalizado (GAMM), com uma distribuição do erro do tipo negativo binomial.  As ilhas e os pontos foram incluídos no modelo como variáveis aleatórias.  Como o número de aves em exibição varia ao longo do período de reprodução, incluiu-se ainda o dia do ano, em que cada contagem foi efetuada.  Para acomodar diferenças no esforço de amostragem, este foi parametrizado incluindo no modelo o logaritmo da duração de cada contagem.  O modelo teve em conta a dispersão estatística dos dados.  A curva sólida, e a área sombreada a verde, correspondem à abundância estimada e respetivos intervalos de confiança a 95%. O efeito aleatório de cada ano e respetivos intervalos de confiança a 95% são indicados pelos pontos e linhas verticais.

Referencias:

Green RE. 1985. Estimating the abundance of breeding Snipe. Bird Study 32: 141-149.

Hoodless AN, Inglis JG & Baines D. 2006. Effects of weather and timing on counts of breeding Snipe Gallinago gallinago. Bird Study 53: 205-212.

Smith KW. 1981. Snipe censusing methods. Bird Study 28: 246-248.

Rodrigues T & Gonçalves D. 2009. A narceja na ilha de São Miguel. In Silva, R & Páscoa, F (eds). Resumos das comunicações apresentadas ao 6º Congresso Florestal Nacional. pp. 51. Ponta Delgada, Açores (Portugal).

Rodrigues T, Moutinho C, Leitão M& Gonçalves D. 2012. Estabelecimento de um protocolo de monitorização da narceja em período reprodutivo nos Açores. VI Jornadas Florestais Insulares, Faial-Pico-São Jorge, Açores (Portugal). (Comunicação em Poster)

Rodrigues T, Silva T, Rodrigues M, Pereira C, Santarém ML, Pimenta M & Gonçalves D. 2013. Current state of the breeding population of Common Snipe in mainland Portugal. In Ferrand Y (ed.). 7th European Woodcock and Snipe Workshop, Saint-Petersbourg.

Rodrigues TM, Lima P, Pires J, Costa J, Sequeira J, Castro A, Azevedo F, Gonçalves D, Leitão M. 2017. Monitoring of the Common Snipe breeding population in the Azores (2014-2017). In Gonçalves, D. & Ferrand, Y (eds). Programme and abstracts of the 8th Woodock and Snipe Workshop. pp. 20. Madalena, Açores (Portugal).

Rodrigues TM, Rodrigues M & Gonçalves D. 2020. Breeding phenology and success of the common snipe Gallinago gallinago in the Azores. Bird Study.

Última atualização: 30 de maio de 2025